O dito do “eu” que se foi: o exame semiótico do discurso apaixonado das cartas dos suicidas

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Tipo
Tese
Data de publicação
2022-02-08
Periódico
Citações (Scopus)
Autores
Azevedo Junior, Jose Bernardo de
Orientador
Barros, Diana Luz Pessoa de
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Membros da banca
Bueno, Alexandre
Cortina, Arnaldo
Hilgert, José Gaston
Fulaneti, Oriana de Nadai
Programa
Letras
Resumo
À luz da Semiótica de linhagem francesa, esta tese objetiva compreender como se constituem os efeitos de sentidos nas cartas dos suicidas publicadas na rede social Facebook, nos anos de 2018 a 2020, e como se dá a articulação das estratégias linguísticas-discursivas no reconhecimento e nas transformações das competências modais do sujeito que põe um fim a própria vida. Em minha jornada acadêmica como docente no Ensino Superior, recebi uma postagem de um suicida que era aluno na universidade em que trabalhei. A partir daí, surgiram algumas inquietações. Será possível reconhecer os traços de um suicida por meio das redações, dos textos verbais, ou dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula? Se o docente fosse competencializado por meio dos estudos discursivos, será que ele teria a percepção de que o aluno seria um futuro suicidado? Assim, iniciou-se a pesquisa norteada pelas indagações: não seria o suicídio um gesto de comunicação como sendo a transmissão de uma mensagem solitária para a sociedade? O ato violento do suicidado faz com que o sujeito busque se comunicar com sua última mensagem porque, possivelmente, a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse? Qual é o sentido em tornar pública uma carta de suicídio pela Internet? Partimos de duas hipóteses. A primeira sendo que o suicidado acreditou em alguém, e frustrado, ele se decepciona com a sociedade – ou com ele mesmo – e resolve fazer mal a quem ele acredita ser o causador dessa decepção. A segunda é o uso da Internet como uma maneira de eternizar a sua morte como forma de revolta às pessoas envolvidas em suas frustrações. Como o suicidado publicou uma carta, é possível investigar os efeitos de sentido passionais derivados de organizações provisórias de modalidades, de intersecções e combinações entre modalidades diferentes, o que nos permite apurar se a postagem foi marcada pela paixão malevolente do querer/poder fazer mal ao sujeito que não cumpriu o contrato fiduciário. Isto posto, a mola propulsora desta pesquisa está alicerçada no objetivo de detectar e estabelecer as características discursivas das cartas dos suicidados publicadas no Facebook, sobretudo no que tange as organizações enunciativas e narrativas, temático-figurativas e passionais. Nos dias de hoje, não são bilhetes escritos manualmente. A comunicação no século XXI se apresenta como o tempo das mídias digitais e interativas. Dentro dos estudos do texto e do discurso, debruçamo-nos no arcabouço teórico-metodológico da Semiótica Discursiva que tem por objeto o texto e concebe o modo de sua produção como um percurso gerativo, num processo de enriquecimento semântico, enxergando o texto como um conjunto de níveis de invariância crescente, cada um dos quais suscetível de uma representação metalinguística adequada. A pesquisa contou com os estudos discursivos instituídos por Algirdas Greimas e sua aplicação por Jacques Fontanille na semiótica das paixões. Também utilizamos os trabalhos dos semioticistas Diana Barros, Erick Landowski e José Luiz Fiorin. O que se concluiu nas postagens é o surgimento de uma pessoa decepcionada e frustrada que acreditou no autoextermínio como forma de vingança e revolta a quem lhe fez algum mal. Os temas como a intolerância, a negligência, o heroísmo, a depressão e o próprio suicídio – sendo formas discursivas marcadas pela afetividade, nascidas de percursos passionais que o sujeito assume -, ocuparam lugar de destaque e engendraram, em meio a uma prática semiótica, uma forma de vida específica. A investigação revelou também a presença de seis aspectos comuns às narrativas sendo subjetivação subvertida; impotência e frustração; sofrimento; culpa/infelicidade; gratidão e agradecimento; recados e posteridade.
Descrição
Palavras-chave
suicídio , facebook , semiótica , semiótica das paixões , internet
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