Debates e embates: a (im)polidez linguística no julgamento do Mensalão
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Tipo
Tese
Data de publicação
2021-02-11
Periódico
Citações (Scopus)
Autores
Lima, Fabiana Portela de
Orientador
Hilgert, José Gaston
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Membros da banca
Barros, Diana Luz Pessoa de
Aquino, Zilda Gaspar Oliveira de
Durigan, Marlene
Batista, Ronaldo de Oliveira
Aquino, Zilda Gaspar Oliveira de
Durigan, Marlene
Batista, Ronaldo de Oliveira
Programa
Letras
Resumo
Este trabalho, inserido no âmbito dos estudos linguístico-pragmáticos, resultou de um estudo sobre interações verbais face a face, com o objetivo geral de descrever e analisar manifestações de polidez-impolidez em situação comunicativa marcada por embate, a saber: interações face a face entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorridas durante o julgamento da Ação Penal 470. A fundamentação teórica da pesquisa foi articulada a partir de pressupostos da teoria da (im)polidez linguística, estabelecidos inicialmente por Penelope Brown e Stephen Levinson ([1978]1987) e revisitados por Kerbrat-Orecchioni ([1996] 2006, 2014), Culpeper (1996, 2005, 2011), Culpeper et al. (2003), Kaul de Marlangeon ([1992] 2003, 2005, 2008) e Kienpointner (1997, 2005), entre outros. As interações analisadas foram produzidas em sessões de julgamento da ação mencionada, conhecido como julgamento do “Mensalão”, ocorrido entre 2012 e 2014. Para análise, selecionamos excertos de interações entre os ministros marcadas por embates e, portanto, propensas a manifestações de impolidez linguística. Recortamos excertos de sete diferentes sessões, referentes à etapa principal do julgamento e às etapas de recursos, que somaram aproximadamente 45 minutos de gravação em áudio e vídeo, captados a partir de transmissão das sessões de julgamento via canal STF na internet e transcritos grafematicamente para posterior análise conversacional. Foi verificada também a possibilidade de manifestações de polidez linguística, a qual, mesmo ocorrendo com menor frequência, exerceu importante papel na interação, concorrendo para o equilíbrio interacional. A polidez linguística encontrou espaço para manifestar-se mesmo em situações de confronto, porém em sua forma mitigadora, manifesta por meio das estratégias atenuadora, reparadora e até mesmo valorizadora com propósito de mitigador. Quanto à impolidez, como previsto, prevaleceu nessas interações, sendo constatada exclusivamente a ocorrência da impolidez genuína, com recorrência de atos de redução voluntária da polidez esperada pelo ouvinte e atos de impolidez de fustigácion, materializados por insinuações de propósitos indevidos, desqualificação, comparação negativa, sobreposição e interrupção de turnos, em atos de fala diretos e indiretos e por vezes combinados a elementos verbais, não verbais e prosódicos. Evidenciaram-se, assim, interações de caráter não cooperativo, motivadas por propósitos estratégicos de natureza individual, como o de garantir o apoio à opinião, o apoio do plenário e o do público externo. No caso das reações às manifestações de impolidez linguística, predominaram reações defensivas dos destinatários da “impolidez original”, provocando o enfrentamento entre os interlocutores, ao passo que as respostas a essas reações em geral ocorreram de forma ofensiva, o que sinaliza a impolidez com propósito estratégico de não cooperação por um objetivo comum. Também foram recorrentes reações defensivas-ofensivas. No que tange às funções da impolidez, a mais recorrente no corpus analisado foi a coercitiva. Por fim, pudemos observar a polidez e a impolidez fluindo ao longo do continuum, cada qual na direção de seus propósitos discursivos: o de cooperação entre os interlocutores, para alcançar o objetivo comum, e o de não cooperação, centrado no estabelecimento, pelo locutor, de seu ponto de vista sobre os fatos narrados no processo, em oposição ao ponto de vista de seu interlocutor. Diante desses dados, concluímos que a impolidez presente nos embates entre os ministros durante o julgamento do “Mensalão” teve função coercitiva, quer manifestando poder por meio da linguagem, quer contra-atacando ameaças recebidas com o propósito de manter a imagem, ou status, o poder por trás da linguagem.
Descrição
Palavras-chave
interação verbal , polidez linguística , impolidez linguística , Mensalão