O homem é um animal que escreve cartas: recepção do gênero carta por alunos do ensino fundamental
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Tipo
Tese
Data de publicação
2009-09-01
Periódico
Citações (Scopus)
Autores
Lima, Wilma Maria Sampaio
Orientador
Lajolo, Marisa Philbert
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Membros da banca
Guimarães, Alexandre Huady Torres
Vasconcelos, Maria Lúcia Marcondes Carvalho
Moraes, Marcos Antonio de
Campos, Maria Inês Batista
Vasconcelos, Maria Lúcia Marcondes Carvalho
Moraes, Marcos Antonio de
Campos, Maria Inês Batista
Programa
Letras
Resumo
O homem é um animal que escreve cartas essa frase presente em carta de Lewis Carroll, não só aponta a importância da correspondência na vida do autor, como também sugere um papel primordial do gênero na construção e expressão da identidade humana. Entretanto o estudo de gêneros (discursivos e textuais) na escola se mostra voltado para apresentar modelos padronizados para leitura e, pela produção, exercitar a escrita de textos que não circulam para além da sala de aula. É o que se infere da análise do trabalho com os gêneros da correspondência especialmente das cartas pessoais presente em treze coleções para as séries iniciais do Ensino Fundamental (2º ao 5º ano), parte do Programa Nacional para o Livro Didático 2007 (PNLD). Nessas séries, veiculam-se conceitos gerais sobre cartas que, espera-se, sejam conhecimentos de que os alunos se valham nas séries posteriores, o que tornou relevante, nesta tese, confrontar esses conhecimentos: a) com conceitos de teóricos
diversos sobre gêneros discursivos e gêneros textuais, o que permitiu observar uma conceituação redutora dos mesmos pelos manuais escolares; b) com um breve histórico do gênero carta, o que apresentou uma proximidade entre os modelos trazidos aos alunos e as propostas da retórica medieval, distanciando-se de posições voltadas para a diversidade de construções individuais frente a cada situação discursiva, veiculadas, entre outros períodos, no século XIX, época em que Lewis Carroll produziu sua obra literária e epistolar; c) com dados de pesquisa realizada em escola particular, com 226 alunos de 5º, 7º e 8º ano, que investigou seus conceitos sobre cartas e que sugere haver uma distância bem marcada entre as informações padronizadas dos manuais até o 5º ano e os conhecimentos construídos pelo aluno no mesmo período e em séries posteriores enquanto, por meio da escrita de cartas em suportes tradicionais, como o papel, e novos, como o e-mail, exercitam uma participação social efetiva fora da escola; d) com o uso que escritores fazem da face criativa da carta, tomando, como exemplos, cartas de Lewis Carroll escritas para crianças no século XIX e tendo-se em mente, nessa escolha, o peso do autor de As aventuras de Alice no País das Maravilhas na produção literária infantil mundial e sua extensa produção epistolar; dessa aproximação, foi possível não só o contraste com a artificialidade dos modelos apresentados nos manuais escolares, como também a retomada do papel da produção epistolar dos escritores na alimentação do sistema literário e na recepção dos textos pelos leitores. São algumas conclusões deste trabalho que: a) o ensino de gêneros da correspondência, presente nos manuais escolares, tem subestimado os conhecimentos que os alunos contemporâneos possuem sobre cartas; b) o trabalho com cartas nos manuais apaga a importância dos aspectos materiais do texto (tamanho, forma, textura etc.) na construção de sentidos pelo leitor, enquanto os alunos os salientam como necessários aos efeitos que esperam provocar com sua produção de cartas fora da escola; c) o contato de alunos com cartas escritas por autores estrangeiros e brasileiros, contemporâneos ou não é um caminho para trabalho mais significativo de escrita como resolução de situações-problema, não mero exercício de reprodução de
modelos; d) a leitura da correspondência de um autor pode ser uma das portas de entrada para a leitura de sua produção literária; e) o contato com cartas de escritores e outros textos autênticos permite trazer, para o espaço escolar, discussões sobre a ética da publicação do que, inicialmente, pertenceu ao espaço privado, que vem permeando os estudos da epistolografia. O presente trabalho não se pretende como manual de ensino de cartas na escola, mas como espaço de discussão de ideias que ajudem professores a refletir sobre o trabalho que realizam e buscar meios de aproximá-lo melhor da premissa dos Parâmetros Curriculares Nacionais de que os conhecimentos linguísticos conseguidos na escola devem permitir ao aluno a participação social efetiva, o exercício da cidadania, que circunscrevemos como a possibilidade de construção e expressão de ideias, sentimentos e da própria identidade na interação com a diversidade de ideias, sentimentos e identidades mediadas pela leitura e escrita de textos.
Descrição
Palavras-chave
discurso , recepção , correspondência , Lewis Carroll , leitura , ensino , discourse , reception , correspondence , Lewis Carroll , reading , teaching